à minha mãe
sem adereço
eterno recomeço deste enredo sem palavras
o emprego do seu afeto
entre o prazer reprimido e o encargo
nenhuma poesia
nesta alegria sem sorriso
doada
neste abraço que protege indefeso
sem qualquer interesse
do desapego
o tempo não cede
ao argumento que alegam teus olhos
que propõe teu desejo
somos cinzas sem direitos
e dissipamos
sopro
mãe
gestasse o homem não seria tanto
na dor e no pranto
do ser que desentranha
parisse o homem não seria tudo
no fruto que fere feto e já fato
esta voz que ecoa
fora do útero
mãe negra é a mãe branca
com os encargos da cor
Agos- 2021