vó é sagrada
a minha sofreu de esquecimento induzido
domesticada
a homicídios, seduções
violência brava
dissolveu o miolo exposto às intemperes
a dignidade esgotada
vivia como escrava analfabeta
na favela/senzala
palmilhando o chão das lavouras da vida
encarcerada, presa (fácil),
aglomerada
no eito
da busca por alimento de fim de feira
eles contam
esquecimento
em aplicações financeiras
e covardes
atos mascarados
mãe é ofício santo
a minha trouxe as sequelas no intelecto
na aparência
no pranto
os tempos difíceis no silêncio
no esquecimento
também
na desilusão, no desencanto
o peso da batalha
nos olhos
fundos
na sobrecarga sobre os ombros
as poucas posses
pelos cantos
e de conquista
o mal desenhar do nome
herança
das minhas fundas raízes
de desespero
e sangrando
lágrimas condensadas
que não saem
dos
olhos
fui bebendo gotas de espanto
escapando
de balas de preconceito
agressões de farda
negro
num mundo branco
rezando a cartilha do senhor de engenho
fazendo fortunas alheias
recebendo migalhas
dos desmamados dos peitos ancestrais
cujos atos
seguem sequelando pranto
aparência
intelecto
induzindo esquecimento
domesticando
pelo
menos
por enquanto
pelo
menos
por enquanto
Jun- 2020
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