aportarão no cais os usurpadores,
mesmo já não existindo cais,
mesmo estando o cais a léguas de distância,
mesmo estando saturado este chão.
usurparão desta terra
já tão usurpada da sua dignidade.
são estreitas as margens e há lixo
nas águas onde aportam
as vicissitudes de um povo.
um menino negro e cativo
desde o ventre materno transpõe
a ponte que existe no lugar do cais.
vai em busca do conhecimento,
na escola dos usurpadores,
usurpado que está da sua etnia,
da sua cor, da história do seu povo.
e tem forjado silenciosamente dentro de si,
o cepo, a chibata e o pelourinho.
e é privado de liberdade que se vive
além do cais do porto onde aportou
um povo e sua cultura que forjou uma nação.
e usurparão ainda o filho
do filho do filho até a última geração
que pisará neste solo, da história de cada um.
Julho- 2017
Poemas de temática social onde aborda, em linguagem simples, de maneira aberta e franca a fome, a miséria, as desigualdades e os privilégios da elite brasileira, e, voltados para a condição do negro e afro-descendente no Brasil fazem menção a fatos históricos desde o continente de origem (África) aos dias atuais, ao amor, à paixão e ao desejo.
segunda-feira, 3 de julho de 2017
quarta-feira, 10 de maio de 2017
O menino negro
o menino negro olhava, olhava e não se via.
bebê, pensou ser a retina que olhava, olhava e não se via.
criança, desconfiou mas não pensou nada.
foi à escola, conheceu as letras, formou as palavras,
mas ainda não se via. jovem, pensou então
que o problema fosse ele, que estava nele, mas calou.
trabalhou cedo, leu livros, fez biblioteca, enamorou-se,
adquiriu conhecimento, mas ainda olhava e não se via.
mas agora o menino negro era já homem feito,
começou a perceber que o problema não estava nele,
que não era ele, chocou-se; mas desta vez não calou,
protestou! protestou! protestou!
mas agora, o menino negro que era já homem feito,
de tanto protestar começou a ouvir,
desta vez dos outros, que o problema estava nele,
que era ele o problema.
então o menino negro que era já homem feito,
conheceu de perto a hipocrisia, a injustiça,
mas não se abateu, não parou de protestar, protestar.
o menino negro, já pai e avô, partiu sem ver sua luta vencida:
o mundo diverso, em igualdade, livre do preconceito e do racismo.
Maio- 2017
bebê, pensou ser a retina que olhava, olhava e não se via.
criança, desconfiou mas não pensou nada.
foi à escola, conheceu as letras, formou as palavras,
mas ainda não se via. jovem, pensou então
que o problema fosse ele, que estava nele, mas calou.
trabalhou cedo, leu livros, fez biblioteca, enamorou-se,
adquiriu conhecimento, mas ainda olhava e não se via.
mas agora o menino negro era já homem feito,
começou a perceber que o problema não estava nele,
que não era ele, chocou-se; mas desta vez não calou,
protestou! protestou! protestou!
mas agora, o menino negro que era já homem feito,
de tanto protestar começou a ouvir,
desta vez dos outros, que o problema estava nele,
que era ele o problema.
então o menino negro que era já homem feito,
conheceu de perto a hipocrisia, a injustiça,
mas não se abateu, não parou de protestar, protestar.
o menino negro, já pai e avô, partiu sem ver sua luta vencida:
o mundo diverso, em igualdade, livre do preconceito e do racismo.
Maio- 2017
segunda-feira, 1 de maio de 2017
Filha de Olorum
à Júlia e Juliana Costa
mulher de brio e força,
negra de beleza
e graça que habitas
o chão das Minas Gerais
do meu Brasil
mais forte na potência
do ouro e do diamante.
filha obediente de Olorum,
criador onipotente
do que existe,
protetor dos povos
oprimidos das Nações.
que todos os orixás
protejam-na na adversidade,
que Oxum traga-te paz
de espírito
e prosperidade,
e Ogum
fortaleça-te na guerra
assim como inspire
estes meus humildes versos.
mulher de negritude
convicta,
que é pássaro
na dor de transpor
distâncias.
conhecedora
arguta das demandas
do teu povo,
a tua etnia é também
a minha etnia.
amar-te é um desafio,
é a força da luta
assídua pela conquista,
é a minha audácia
mais intrépida,
minha certeza lúcida.
apaixona-me
tua beleza a cada visão
da tua imagem,
mas ganha-me na íntegra
teu intelecto
a cada sílaba inteligente
que sutil pronuncias.
negra que não és minha,
pois livre
és como o vento,
tu que foste
concebida
desde o ventre d'África,
mãe generosa
das Nações do Mundo:
tua pele tem
a delicadeza das pétalas
do alto da estatura
da flor na primavera.
os teus olhos
a diversidade do topázio
com esmero
lapidado pelo ourives.
tua voz o timbre
doce das estrelas
quando cantam galáxias.
a sensualidade
crespa dos teus cabelos,
sob o domínio
do turbante, que é antes
o traço forte
de reafirmação da tua
identidade,
tem o brilho íntegro
de tudo que é forte,
de tudo que encanta.
o sorriso entre
teus lábios,
que tem a textura do figo,
tem a alvura
do marfim espoliado
desde as savanas
da terra mãe das Nações.
tua geografia tem
a complexidade
dos contornos
do Velho Continente,
sob o linho do vestido
que oculta
tua íntima beleza.
tua arquitetura
a simetria das pétalas
de uma orquídea
que esbanja graça,
fincada na autenticidade
da natureza
mais selvagem.
sejas ostensiva na poesia,
o berço autêntico
de tudo que é belo.
pões a nódoa
do teu pranto
nos dias de fragilidade
sobre os originais
dos poemas que escrevo,
que mais perto
e dentro
deste poeta,
que hoje te canta,
não podes estar na vida.
tu que no poder da tua
natureza de mulher
tens a força guerreira
de uma Luísa Mahin,
de uma Dandara,
de uma Maria Felipa,
de uma Carolina de Jesus.
corre nas tuas artérias
o sangue ancestral
dos povos guerreiros d'África.
desde o Nilo próspero
às minas
do diamante espoliado
das mãos negras do teu povo.
desde o plantio
do milho e do arroz
forjado
pelo sangue do teu povo
às lavouras do café,
da batata e da mandioca,
sob o manto sagrado
dos dialetos que compõem
os idiomas do Continente.
Maio- 2017
mulher de brio e força,
negra de beleza
e graça que habitas
o chão das Minas Gerais
do meu Brasil
mais forte na potência
do ouro e do diamante.
filha obediente de Olorum,
criador onipotente
do que existe,
protetor dos povos
oprimidos das Nações.
que todos os orixás
protejam-na na adversidade,
que Oxum traga-te paz
de espírito
e prosperidade,
e Ogum
fortaleça-te na guerra
assim como inspire
estes meus humildes versos.
mulher de negritude
convicta,
que é pássaro
na dor de transpor
distâncias.
conhecedora
arguta das demandas
do teu povo,
a tua etnia é também
a minha etnia.
amar-te é um desafio,
é a força da luta
assídua pela conquista,
é a minha audácia
mais intrépida,
minha certeza lúcida.
apaixona-me
tua beleza a cada visão
da tua imagem,
mas ganha-me na íntegra
teu intelecto
a cada sílaba inteligente
que sutil pronuncias.
negra que não és minha,
pois livre
és como o vento,
tu que foste
concebida
desde o ventre d'África,
mãe generosa
das Nações do Mundo:
tua pele tem
a delicadeza das pétalas
do alto da estatura
da flor na primavera.
os teus olhos
a diversidade do topázio
com esmero
lapidado pelo ourives.
tua voz o timbre
doce das estrelas
quando cantam galáxias.
a sensualidade
crespa dos teus cabelos,
sob o domínio
do turbante, que é antes
o traço forte
de reafirmação da tua
identidade,
tem o brilho íntegro
de tudo que é forte,
de tudo que encanta.
o sorriso entre
teus lábios,
que tem a textura do figo,
tem a alvura
do marfim espoliado
desde as savanas
da terra mãe das Nações.
tua geografia tem
a complexidade
dos contornos
do Velho Continente,
sob o linho do vestido
que oculta
tua íntima beleza.
tua arquitetura
a simetria das pétalas
de uma orquídea
que esbanja graça,
fincada na autenticidade
da natureza
mais selvagem.
sejas ostensiva na poesia,
o berço autêntico
de tudo que é belo.
pões a nódoa
do teu pranto
nos dias de fragilidade
sobre os originais
dos poemas que escrevo,
que mais perto
e dentro
deste poeta,
que hoje te canta,
não podes estar na vida.
tu que no poder da tua
natureza de mulher
tens a força guerreira
de uma Luísa Mahin,
de uma Dandara,
de uma Maria Felipa,
de uma Carolina de Jesus.
corre nas tuas artérias
o sangue ancestral
dos povos guerreiros d'África.
desde o Nilo próspero
às minas
do diamante espoliado
das mãos negras do teu povo.
desde o plantio
do milho e do arroz
forjado
pelo sangue do teu povo
às lavouras do café,
da batata e da mandioca,
sob o manto sagrado
dos dialetos que compõem
os idiomas do Continente.
Maio- 2017
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