segunda-feira, 3 de julho de 2017

Usurpadores

aportarão no cais os usurpadores,
mesmo já não existindo cais,
mesmo estando o cais a léguas de distância,
mesmo estando saturado este chão.
usurparão desta terra
já tão usurpada da sua dignidade.

são estreitas as margens e há lixo
nas águas onde aportam
as vicissitudes de um povo.
um menino negro e cativo
desde o ventre materno transpõe
a ponte que existe no lugar do cais.

vai em busca do conhecimento,
na escola dos usurpadores,
usurpado que está da sua etnia,
da sua cor, da história do seu povo.
e tem forjado silenciosamente dentro de si,
o cepo, a chibata e o pelourinho.

e é privado de liberdade que se vive
além do cais do porto onde aportou
um povo e sua cultura que forjou uma nação.
e usurparão ainda o filho
do filho do filho até a última geração
que pisará neste solo, da história de cada um.

                                  Julho- 2017

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