quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Tumbeiros II

feito morcegos 
espreitam a penumbra, 
encovam os olhos na treva, 
suspeitam mesmo de si 
à pele negra,
não há limite ou trégua.
têm pólvora nos dedos,
distinguem métodos,
a jurisdição
onde quem teme acata.
capitães do mato da selva urbana,
o mesmo que a vida
"protege" mata,
enquanto o burguês soma, 
acumula capital.
e pelo mister 
de matar se matam,
na urgência d'algum tiro
tiram a vida dum igual.
a quem se deve
a escavada chaga social,
estão nas ruas
os coevos tumbeiros.

      Fev. 2021

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Tumbeiros

dos porões aos tubarões
estanque a dignidade 
vida e morte
esgotam as emoções
pressentidas
golilhas e correntes
o berço jaz no horizonte
fim que apenas
principia
princípio do precipício
faz-se uma nação
negra força motriz
atrozes flagelos
dorme nos tumbeiros
o intelecto
nem talvez e nem senão
acato e servilismo
e até hoje, senhores 
                   
                      -pois não!?

       Fev. 2021

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Cedo ou tarde

não provarei esta comida
assim, posta na mesa,
que meu paladar 
e pudor
já não compreendem.
eu quero a cabeça dos senhores
herdeiros da afanada 
fortuna ancestral,
cedo ou tarde.

não vestirei esta roupa 
assim, cingindo meu corpo,
que minha pele 
e decoro 
também já não compreendem.
eu quero as vísceras,
cedo ou tarde, 
dos donos do poder 
usurpado.

o gado talvez cogite
no seu pastar cotidiano
vingança ao ser humano.

quem saberá?

fato é que meu paladar
degusta o menosprezo,
e enoja ao sórdido
alimento
do seu desprezo.

minha pele já não admite
o repugnante tecido da sua gula
e talvez tramo 
na surdina
sua queda destas alturas.

quem saberá?

       Fev. 2021

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Lençóis trocados

divago devagar as vagas
nada além do mar 
de suas coxas
mãos dissipam-se pelo e pele
aclives e declives
sinuosidades 
travessas atravessam 
o instante

silêncios e sussurros
tudo é fogo
cometa no céu
da boca
do estômago
a dança étnica 
das nossas encruzilhadas

ato e essência
hiato
entreato 
da nossa ausência
o mundo
dentro do quarto

detalhes 
tornam-se tudo
nada escapa 
à chama 
que somos nós nus 
na cama

vulcânicas atividades
corposísmicas
a alma materializa-se
o corpo transcende

lençóis trocados secam ao vento

          Fev. 2021