quando este meu amor cresce
meu coração padece
de um querer que não se esgota
que brota da tua pele negra
e ruem-se os estigmas
sujeitos à tua força de mulher
tua fala negra é regra
é orgulho tua negra alma
que sejam inspiração
as calosas mãos ancestrais
na luta nossa pelo pão
que força não falte aos lares
força que eu chamo vida
esta exata medida da paixão
transformada em amor
da luta convertida em resistência
Nov. 2019
Poemas de temática social onde aborda, em linguagem simples, de maneira aberta e franca a fome, a miséria, as desigualdades e os privilégios da elite brasileira, e, voltados para a condição do negro e afro-descendente no Brasil fazem menção a fatos históricos desde o continente de origem (África) aos dias atuais, ao amor, à paixão e ao desejo.
segunda-feira, 15 de abril de 2024
Retrato
o que o Fabrício comia
eu queria perguntar
São Cosme São Damião
divindade ou ciência
que saiba explicar
talvez algum orixá
o que o Fabrício comia
eu fiquei a pensar
o que o Fabrício comia?
Jul/ 2019
eu queria perguntar
São Cosme São Damião
divindade ou ciência
que saiba explicar
talvez algum orixá
o que o Fabrício comia
eu fiquei a pensar
o que o Fabrício comia?
Jul/ 2019
Mulheres da minha vida
Na sociedade ideal que construiremos
as mulheres da minha vida
provarão sempre do melhor alimento,
e jamais lavarão a louça depois das refeições,
nem as da nossa família, nem as alheias,
as louças das famílias brancas.
Na sociedade ideal que construiremos
as mulheres da minha vida
vestirão sempre dos melhores trajes,
sem jamais encostarem o ventre no tanque
para lavarem as nossas roupas,
nem as alheias,
as roupas das famílias brancas.
Na sociedade ideal que construiremos
as mulheres da minha vida
pisarão sempre os chãos de salas amplas,
sem jamais limparem os chãos
de nossas casas, nem de casas alheias,
os chãos das casas das famílias brancas.
Chibata cantará nas costas de quem se opor!
Nov. 2019
as mulheres da minha vida
provarão sempre do melhor alimento,
e jamais lavarão a louça depois das refeições,
nem as da nossa família, nem as alheias,
as louças das famílias brancas.
Na sociedade ideal que construiremos
as mulheres da minha vida
vestirão sempre dos melhores trajes,
sem jamais encostarem o ventre no tanque
para lavarem as nossas roupas,
nem as alheias,
as roupas das famílias brancas.
Na sociedade ideal que construiremos
as mulheres da minha vida
pisarão sempre os chãos de salas amplas,
sem jamais limparem os chãos
de nossas casas, nem de casas alheias,
os chãos das casas das famílias brancas.
Chibata cantará nas costas de quem se opor!
Nov. 2019
Fênix negra
o feitor levou-te-me dos braços
tolheu o exercício do nosso arbítrio
restringiu nossos movimentos
porém não pôde quebrar nossas asas
quero que perdoe-me as metáforas
é que o inimigo não descansa, invadiu a cidade
saqueou, estuprou e degolou muito irmão
perdoe também as más palavras
mas é que com a força do intelecto
em silêncio, a gente parte as correntes
põe abaixo estas paredes de pedra
depois faz amor sob a luz das estrelas
Set- 2019
tolheu o exercício do nosso arbítrio
restringiu nossos movimentos
porém não pôde quebrar nossas asas
quero que perdoe-me as metáforas
é que o inimigo não descansa, invadiu a cidade
saqueou, estuprou e degolou muito irmão
perdoe também as más palavras
mas é que com a força do intelecto
em silêncio, a gente parte as correntes
põe abaixo estas paredes de pedra
depois faz amor sob a luz das estrelas
Set- 2019
domingo, 14 de abril de 2024
Manicômio
O manicômio me espera
depois de palmilhar a terra
dos donos de meu sangue
O manicômio me espera
depois de descarnar o crânio
como exemplo em praça pública
O manicômio me espera
depois de polir o ouro e o diamante
com a água de meu sangue
O manicômio me espera
depois do estupro da inocência
nos recônditos da mata virgem
O manicômio me espera
depois das peles marcadas
com a insígnia de meu dono
O manicômio me espera
depois de forjar uma nação
apenas com a força do braço
O legado pra tal abnegação
não são mais que as portas
escancaradas do manicômio
Nov. 2019
depois de palmilhar a terra
dos donos de meu sangue
O manicômio me espera
depois de descarnar o crânio
como exemplo em praça pública
O manicômio me espera
depois de polir o ouro e o diamante
com a água de meu sangue
O manicômio me espera
depois do estupro da inocência
nos recônditos da mata virgem
O manicômio me espera
depois das peles marcadas
com a insígnia de meu dono
O manicômio me espera
depois de forjar uma nação
apenas com a força do braço
O legado pra tal abnegação
não são mais que as portas
escancaradas do manicômio
Nov. 2019
sexta-feira, 12 de abril de 2024
Estrelas dançam no poema envergonhado
as estrelas dançam no céu mas o negro não vê
proscrito da terra vem nos porões
minha angústia carrega o seu olhar de medo
e tenho apenas o poema
saltando no peito
que será de nós depois da tempestade
depois da memória
dos tempos de barbárie
o que diremos aos filhos dos filhos
e aos próprios filhos
o que diremos às esposas
às mães e aos irmãos
o que diremos a nós mesmos no escuro da noite
que uma constelação de estrelas
se perdeu no mar
que não foi possível saltar para liberdade
no mar em fúria do mau destino
que a liberdade fracassou diante da violência
que precisamos reinventar o enredo
duma história distorcida
e o poema se cala envergonhado da própria impotência
o céu de chumbo chora a nossa dor
Jan- 2024
quinta-feira, 11 de abril de 2024
O poder da poesia
a poesia é um gesto de paz
sentindo as agonias da guerra
arte e enigma
fêmea que gesta, pare
e enterra
lance de harmonia
embora se utilize da tempestade
sopro de compaixão
a envolver num abraço a humanidade
traz na metáfora
palavras de esperança
alento num verso de justiça e bonança
sobre a aflição dos desesperados
o flagelo dos miseráveis
que não corrompa a planta
afogando com o pesar a semente
quem pode suplantar
a audácia da injustiça com poesia simplesmente
compor e semear o verso
corpo e mente
transbordar das pálpebras
o oceano das mágoas
que separe o grão, prepare o chão
e a mão que plante
e colha o trigo
tenha força pra fazer o pão
e sanar a fome
de todo e qualquer irmão
soprará ao justo o vento brando
refrescando as feridas
e o tornado devastará o coração tirano
Mar- 2021
quarta-feira, 10 de abril de 2024
Poeta Suburbano
flor rompendo o asfalto, nasceu um poeta suburbano,
poeta assim meio inquieto, meio discreto, meio engano.
versado no seu dialeto, compõe seu verso meio profano.
morreu na cruz, morreu, morreu Jesus enquanto humano,
quem morre no SUS, à margem morre, morre subumano.
o céu que vejo é uma nuvem de monóxido de carbono,
se o céu não vejo, estrelas vejo, mas apenas em sonho.
concebi um lindo verso, assim meio com cara de aborto,
bem semelhante ao feto que um dia vi no meio do esgoto:
saiu um poema torto, um poema coto, um poema morto,
então, ando meio bronco, meio bronca, assim meio pouco.
Junho- 2016
poeta assim meio inquieto, meio discreto, meio engano.
versado no seu dialeto, compõe seu verso meio profano.
morreu na cruz, morreu, morreu Jesus enquanto humano,
quem morre no SUS, à margem morre, morre subumano.
o céu que vejo é uma nuvem de monóxido de carbono,
se o céu não vejo, estrelas vejo, mas apenas em sonho.
concebi um lindo verso, assim meio com cara de aborto,
bem semelhante ao feto que um dia vi no meio do esgoto:
saiu um poema torto, um poema coto, um poema morto,
então, ando meio bronco, meio bronca, assim meio pouco.
Junho- 2016
domingo, 7 de abril de 2024
Jesus Cristo
Jesus Cristo é crioulo
tição verdadeiro
nasceu em morro carioca
feito Noel Rosa
Cartola
Machado de Assis
descende de orixá
filho estimado do pai Oxalá
prega a paz embora pregado na cruz
mas o coração de Jesus
sangrando
perdoou e perdoará
Ele é carapinha
falsa é a imagem atribuída
lutou por liberdade
sendo feito Gama abolicionista
há de haver
perdidos registros
que estas palavras ratificam
dois mil anos
que se sabe transformaram-te a cor
do pixaim
nasceram escorridas madeixas
e o olho azulou
o que fizeran Santo Pai
da Tua imagem
Tua prole descende
d'África
nosso eterno Pai é brasileiro
se provar não posso
o que peremptório assevero
também provar
ninguém pode esta cor
tão desbotada
que envergam nos templos
Tuas imagens
tanta incerteza sobre
Tua história
me faz acreditar reclamando
Tua nacionalidade
digam toda a verdade
sobre Teu cabelo
sobre Teus olhos, sobre Tua pele
que renuncio minhas certezas
que Cristo é brasileiro
que é carapinha?
retinto tição verdadeiro.
Out- 2021
Apedrejamento
um jovem negro foi apedrejado até a morte
e o cadáver arreganhou os dentes amarelados
na via pública
na via pública
do sol a pino da tarde
à luz da lua da madrugada
esta pedra tem cor e classe social
e os parasitas brancos
da sociedade
branca
legislavam em congresso a má sina do gado negro
e os parasitas brancos
da sociedade
branca
condenavam nos tribunais
o gado negro ao matadouro sem uma gota de dignidade
eu conheço
uma legião de zumbis negros
que sofrem
apedrejamento diariamente
até
que encontrem a mesma sorte
do jovem negro apedrejado até a morte
com a pedra
que a sociedade
branca
dos parasitas brancos
inventou para vitimar jovens negros
já tão vitimados
por todas
as mazelas da sociedade branca
dos parasitas brancos
Out- 2019
sexta-feira, 5 de abril de 2024
Racismo estrutural
nas novelas, via de regra, eu sou a empregada.
nos filmes a prostituta ou o traficante.
nas propagandas de natal a coca-cola.
nas de margarina o café.
nas de carro o pneu ou o passageiro.
nas de fralda a pupila.
nos telejornais a caneta do apresentador.
nas redações dos jornais as teclas do computador.
nas empresas a faxineira.
nos condomínios de luxo o porteiro.
nas universidades o quadro negro, que é verde.
nas orquestras o smoking do maestro.
na oscar freire o mendigo.
nos shoppings centers o segurança.
nos livros didáticos e paradidáticos os escravos.
no congresso os ternos dos nobres parlamentares.
nos tribunais as togas dos excelentíssimos juízes.
nas academias as fardas dos imortais.
nas bibliotecas públicas as lixeiras.
nos bancos as copeiras, será?
nos hospitais... repartições públicas...
essa é a vergonha do rascismo estrutural no brasil,
treine o seu olhar, se quiser, é claro!
Jan- 2024
quarta-feira, 3 de abril de 2024
A cor de minha busca
eu escarro e cuspo sangue negro
na cara desdenhada do feitor
na cara desdenhada do feitor
que me chibata,
este destino imposto às custas
de tanto sangue,
na cara de escárnio
do patrão dono do fruto
usurpado dos meus esforços.
porque negro é o escroto que me trouxe
de terras remotas,
a placenta que acolheu
o tambor do meu peito no ventre
de minha mãe negra.
desde a aparência renegada
das minhas origens
à mista cor dos corpos herdeiros
dos horrores das senzalas,
das dores das torturas tantas vezes negadas.
negra é a cor de minha pele,
negra são minhas palavras
e a minha poesia,
negra é a raça humana desentranhada
de África mãe, negro
são os caminhos onde forjo
meus passos em busca
de minha verdadeira história.
Jan- 2021
terça-feira, 2 de abril de 2024
Black power
o sutil asfalto no seu fino trato
alaga o sorriso no rosto
do favelado
rio que deságua no mar do sofrimento
e na inércia do conjunto que não é o todo
porque somos muitos
despenca o negro pirâmide
a
bai
xo
negrura exposta na estrutura social
no geográfico caráter do não viver
que resiste ao impossível
dissipando o tempo na angústia
do não ser
-gado e pasto-
sociológico abandono
estrutural desenlace
desengano e sociedade
e lega-se mágoa
vende-se a alma ao diabo
a preço de centavos
suados
sob o anverso da moeda do escárnio
apartheids segregam flores do mesmo jardim
demagogia racial tranca as portas do acesso
cotiza exclusão
mas o poder do negro cresce pra dentro
e transborda poesia
para os poros lacrados da humanidade
Set- 2021
segunda-feira, 1 de abril de 2024
Poeira
era pedra e pedra e virou pó
e compôs a poeira nas galáxias
sobre os mares, nos desertos
o cisco nos olhos
o pigarro nas gargantas
o pó na estante entre os livros
dormiu com os livros
e penetrou nos livros
e aprendeu as palavras
e devorou os livros
na magia do saber que transforma
depois de tanta andança
deu-se o improvável
mas nunca o inesperado
tornou-se pedra, estrela e lua
hoje, através das frestas do barraco,
faz voar a imaginação
faz sonho onde havia vazio
ilumina o livro nas mãos
do menino pobre que aprende ler
Set- 2019
e compôs a poeira nas galáxias
sobre os mares, nos desertos
o cisco nos olhos
o pigarro nas gargantas
o pó na estante entre os livros
dormiu com os livros
e penetrou nos livros
e aprendeu as palavras
e devorou os livros
na magia do saber que transforma
depois de tanta andança
deu-se o improvável
mas nunca o inesperado
tornou-se pedra, estrela e lua
hoje, através das frestas do barraco,
faz voar a imaginação
faz sonho onde havia vazio
ilumina o livro nas mãos
do menino pobre que aprende ler
Set- 2019
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