nessa selva povoada de feras
onde o fruto que alimenta
onde o fruto que alimenta
é também o que mata,
não me quero menos que fera,
contemporâneo afortunado
desta gente negra,
deste contingente humano de peso.
meu verso é um compilado
de muitas vozes,
influência dessa miríade
de voz poética brasílica.
eu sou apenas um
e todo mundo
neste mundo de Silveiras,
Colinas, Venturas, Camargos.
o fruto verde desta
complexa fronde, deste robusto
arbusto, desta árvore áfrica
brasileira que afronta
no front da palavra
a violenta frota do sistema,
a rota que nos quer
cordeiros, carne morta,
nas vielas, nas favelas, nos canteiros
de obra, nos quer derrota.
mas empunho a pena
e pena de quem não pensa,
de quem quer a recompensa
por minha pele,
de quem odeia a minha negra cor.
sei de cor
o que querem
os que me querem pó,
os que me querem só o nó
da minha etnia.
mas é com alegria
que sigo a assunção
dos caminhos
de um Carlos de Assumpção,
de uma Geni Guimarães.
e é com muito orgulho
que assumo a alma que aflora
da minha ilustre
gente negra
na minha própria alma.
Dez- 2020