segunda-feira, 20 de maio de 2024

Assunção

nessa selva povoada de feras
onde o fruto que alimenta 
é também o que mata,
não me quero menos que fera,
contemporâneo afortunado 
desta gente negra,
deste contingente humano de peso.

meu verso é um compilado 
de muitas vozes, 
influência dessa miríade
de voz poética brasílica.
eu sou apenas um 
e todo mundo
neste mundo de Silveiras,
Colinas, Venturas, Camargos.

o fruto verde desta 
complexa fronde, deste robusto
arbusto, desta árvore áfrica 
brasileira que afronta
no front da palavra
a violenta frota do sistema,
a rota que nos quer 
cordeiros, carne morta, 
nas vielas, nas favelas, nos canteiros
de obra, nos quer derrota.

mas empunho a pena
e pena de quem não pensa,
de quem quer a recompensa 
por minha pele,
de quem odeia a minha negra cor.
sei de cor 
o que querem
os que me querem pó,
os que me querem só o nó 
da minha etnia.
mas é com alegria 
que sigo a assunção 
dos caminhos
de um Carlos de Assumpção,
de uma Geni Guimarães.
e é com muito orgulho
que assumo a alma que aflora
da minha ilustre 
gente negra 
na minha própria alma.

       Dez- 2020

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