e soam os tambores do candomblé,
tambores que vêm d'Africa,
tambores dos terreiros da Bahia,
dos filhos negros, filhos de Oxóssi,
senhor das florestas, misericordioso orixá.
soa tambor, liberta teus filhos do carcere!
soa tambor, faz cessar a chibata
que canta nas costas do teu filho negro!
soa tambor, propaga a paz
que o culto do teu povo é pela liberdade!
muitos dos filhos d'Africa, filhos de Olorun,
sofreram em navios negreiros
até aportar, os mais fortes, na costa brasileira.
muitos pereceram diante da barbárie,
e seus corpos, lançados ao mar,
foram devorados por tubarões.
os que aqui aportaram,
conheceram o inferno na terra:
subjugados, encarcerados, torturados
muitos pereceram mais uma vez, e tantas outras.
os tambores, hoje, ainda que tímidos,
soam com maior liberdade nos terreiros
de candomblé, nos guetos, no silêncio das noites.
a genuína pátria do seu filho negro,
África mãe, tem as cores da liberdade,
embora haja tanta prisão
para os filhos da sua terra,
embora haja tanta fome, tanta dor e tanta guerra.
os seus filhos que aqui morreram lutando,
são lembrados nos toques dos tambores d'Africa.
os que resistiram às injúrias e injustiças,
ainda batalham com seus tambores, sua inteligência,
sua força e toda a sua fé
na luta pela liberdade e pela igualdade.
soa tambores do candomblé!
soa tambores d'Africa!
soa tambores dos terreiros da Bahia!
pela liberdade ao culto! pela liberdade de um povo!
Dez- 2016
Poemas de temática social onde aborda, em linguagem simples, de maneira aberta e franca a fome, a miséria, as desigualdades e os privilégios da elite brasileira, e, voltados para a condição do negro e afro-descendente no Brasil fazem menção a fatos históricos desde o continente de origem (África) aos dias atuais, ao amor, à paixão e ao desejo.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
João valentão
joão nasceu no inverno, achando que era eterno, pendurado no peito materno.
nasceu João serelepe, esperto feito uma lebre, naquele humilde casebre.
filho de benzedeira, pegado pela parteira, em plena sexta-feira.
vagiu feito uma fera, mamou feito um leão, dormiu e acordou na primavera.
cresceu João taludo, brincou João de tudo, bola de gude papagaio pião.
cresceu mais um pouquinho, sua alcunha era negrinho, foi ficando safadinho.
tornou-se João adolescente, mas sem um emprego decente, achava que não era gente.
fumava maconha nas esquinas, erguia as saias das meninas, furtava frutas nas cantinas.
quando João fez dezoito, armou-se com um 38, tornou-se o valentão da rua oito.
mas João virou homem, e forte feito um lobisomem, empregou-se no Clube Hom's.
lá conheceu Carmelita, coroa podre de rica, assim mudou João de vida.
tinha comida na mesa, administrava uma empresa, adotou a negrinha Tereza.
não se achava mais eterno, guiando seu Volkswagen, dentro do seu fino terno...
e parece que eu não tinha mesmo que fazer esta madrugada.
Janeiro- 2015
nasceu João serelepe, esperto feito uma lebre, naquele humilde casebre.
filho de benzedeira, pegado pela parteira, em plena sexta-feira.
vagiu feito uma fera, mamou feito um leão, dormiu e acordou na primavera.
cresceu João taludo, brincou João de tudo, bola de gude papagaio pião.
cresceu mais um pouquinho, sua alcunha era negrinho, foi ficando safadinho.
tornou-se João adolescente, mas sem um emprego decente, achava que não era gente.
fumava maconha nas esquinas, erguia as saias das meninas, furtava frutas nas cantinas.
quando João fez dezoito, armou-se com um 38, tornou-se o valentão da rua oito.
mas João virou homem, e forte feito um lobisomem, empregou-se no Clube Hom's.
lá conheceu Carmelita, coroa podre de rica, assim mudou João de vida.
tinha comida na mesa, administrava uma empresa, adotou a negrinha Tereza.
não se achava mais eterno, guiando seu Volkswagen, dentro do seu fino terno...
e parece que eu não tinha mesmo que fazer esta madrugada.
Janeiro- 2015
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Espectros
Poema sobre o trabalho infantil
e de homens nas carvoarias
imensos fornos pejados
de hulha em brasa,
medonho inferno dantesco
em tonalidade rubra,
construídos de sangue
a esvair-se pela pele:
esbórnia estúpida da vil
ganância aristocrática.
fagulhas incandescentes
borrando tragicamente
o céu azul.
uma fumaça escura
turvando a visão,
penetrando o pulmão
da infância perdida
num trabalho ilegal e degradante.
e são crianças, ainda,
adoentadas,
enfraquecidas e ignorantes.
e são homens a passo largo
à sepultura precoce.
e são velhos tísicos,
sem amanhã,
à beira da morte iminente.
pele negra, trabalho escravo,
ancestralidade...
mãos calejadas de tanto
sofrer descaso.
sonho tolhido
sob sol lancinante.
identidade há muito perdida
nas voltas da vida.
pés pisando nuvens
a roda do capital
no seu ciclo macabro.
pastel de quimera,
quimera no prato:
estômago colado
às costas e a epiderme
a desenhar em traço
trágico a ossatura.
injuriada infância
irmã de todos nós.
homem de lama de ainda
nem aurora ao crepúsculo.
cachorro baio de pele e osso
em moscas e escaras,
no cercado da propriedade
sem cercado de dono alheio.
rota e frágil estrutura
de madeira
esparsa coberta
com folhas escassas
de zinco furado: seu lar.
(uma industria suja, excelência,
que fabrica seu confortável automóvel,
que calça seus pés com seus tênis
da moda, seus sapatos finos,
patrocina seu terno de linho nobre,
sua cobertura milionária,
sua viagem de avião.
uma indústria suja, excelência,
que patrocina seu bom domingo,
das melhores cervejas, uísques,
do churrasco com as melhores carnes,
seu restaurante, seu alimento sofisticado,
a joia rara no pescoço da sua mulher).
Nov. 2013
.
e de homens nas carvoarias
imensos fornos pejados
de hulha em brasa,
medonho inferno dantesco
em tonalidade rubra,
construídos de sangue
a esvair-se pela pele:
esbórnia estúpida da vil
ganância aristocrática.
fagulhas incandescentes
borrando tragicamente
o céu azul.
uma fumaça escura
turvando a visão,
penetrando o pulmão
da infância perdida
num trabalho ilegal e degradante.
e são crianças, ainda,
adoentadas,
enfraquecidas e ignorantes.
e são homens a passo largo
à sepultura precoce.
e são velhos tísicos,
sem amanhã,
à beira da morte iminente.
pele negra, trabalho escravo,
ancestralidade...
mãos calejadas de tanto
sofrer descaso.
sonho tolhido
sob sol lancinante.
identidade há muito perdida
nas voltas da vida.
pés pisando nuvens
a roda do capital
no seu ciclo macabro.
pastel de quimera,
quimera no prato:
estômago colado
às costas e a epiderme
a desenhar em traço
trágico a ossatura.
injuriada infância
irmã de todos nós.
homem de lama de ainda
nem aurora ao crepúsculo.
cachorro baio de pele e osso
em moscas e escaras,
no cercado da propriedade
sem cercado de dono alheio.
rota e frágil estrutura
de madeira
esparsa coberta
com folhas escassas
de zinco furado: seu lar.
(uma industria suja, excelência,
que fabrica seu confortável automóvel,
que calça seus pés com seus tênis
da moda, seus sapatos finos,
patrocina seu terno de linho nobre,
sua cobertura milionária,
sua viagem de avião.
uma indústria suja, excelência,
que patrocina seu bom domingo,
das melhores cervejas, uísques,
do churrasco com as melhores carnes,
seu restaurante, seu alimento sofisticado,
a joia rara no pescoço da sua mulher).
Nov. 2013
.
HaiCais
pulou do tanque
a rã de Bashô,
que será que ele acho(u)?
o sal do oceano,
será, meu Deus,
a lágrima do peixe?
eu olho a formiga
ela nem liga
passa e se equilibra
se espicha toda
a lagartixa
e come a barata viva
o que te importa
é a cor da epiderme? saibas,
será banquete de verme!
digo em verdade
brincar a síntese do verso
é a maior liberdade
reúno num haicai
minha África ancestral
e a cultura oriental
é de admirar
seu jeito torto de amar
ama amar sem amar
parado passo
andando me desfaço
e sigo passando
belo o boi no pasto,
mas belo? o que importa
é o boi no prato!
haicai suburbano:
pega o ônibus, vai de trem,
vive meio engano.
digo com apreço,
dinheiro? na sepultura
tudo é esqueleto!
castiga a fome
devora o ventre da criança
que há dias não come
abjeto salário,
por que não tenta o patrão
viver como operário?
brinca o vento
de desmaiar em teus braços,
corpo em movimento.
estou carente de amar
mas só tenho esta cama vazia
e a mania de pensar
quanto lamento
de dor... profundo canto
do sapo cururu
conta-me sabiá,
onde fica sua morada.
no pé de jacarandá?
DÚVIDA
sr. Peixe, pergunto:
no fundo do mar, como
dormes sem deitar?
A GALINHA
no manso murmúrio
do rio, a galinha, rente
à margem, dormiu.
INVERNO
bicho de pelúcia,
no denso frio da invernada:
criança agasalhada.
PRIMAVERA
brota a primavera,
num bem devagarinho...
-gorjeia passarinho!
ÀQUELE AMOR
hoje relembro com
ardor, toda a inocência
dos bilhetes de amor.
MANHÃ
vendaval imenso,
que revirou, imenso drama:
mexeu toda a cama!
DEPOIS DA CHUVA
passa a lua
no asfalto sob meus pés,
caminho por estas ruas.
FLORES DE ABRIL
finda as flores de abril,
pelas brandas mãos do outono.
-mais uma folha caiu!
2011- 2012- 2013- 2018- 2019
.
a rã de Bashô,
que será que ele acho(u)?
o sal do oceano,
será, meu Deus,
a lágrima do peixe?
eu olho a formiga
ela nem liga
passa e se equilibra
se espicha toda
a lagartixa
e come a barata viva
o que te importa
é a cor da epiderme? saibas,
será banquete de verme!
digo em verdade
brincar a síntese do verso
é a maior liberdade
reúno num haicai
minha África ancestral
e a cultura oriental
é de admirar
seu jeito torto de amar
ama amar sem amar
parado passo
andando me desfaço
e sigo passando
belo o boi no pasto,
mas belo? o que importa
é o boi no prato!
haicai suburbano:
pega o ônibus, vai de trem,
vive meio engano.
digo com apreço,
dinheiro? na sepultura
tudo é esqueleto!
castiga a fome
devora o ventre da criança
que há dias não come
abjeto salário,
por que não tenta o patrão
viver como operário?
brinca o vento
de desmaiar em teus braços,
corpo em movimento.
estou carente de amar
mas só tenho esta cama vazia
e a mania de pensar
quanto lamento
de dor... profundo canto
do sapo cururu
conta-me sabiá,
onde fica sua morada.
no pé de jacarandá?
DÚVIDA
sr. Peixe, pergunto:
no fundo do mar, como
dormes sem deitar?
A GALINHA
no manso murmúrio
do rio, a galinha, rente
à margem, dormiu.
INVERNO
bicho de pelúcia,
no denso frio da invernada:
criança agasalhada.
PRIMAVERA
brota a primavera,
num bem devagarinho...
-gorjeia passarinho!
ÀQUELE AMOR
hoje relembro com
ardor, toda a inocência
dos bilhetes de amor.
MANHÃ
vendaval imenso,
que revirou, imenso drama:
mexeu toda a cama!
DEPOIS DA CHUVA
passa a lua
no asfalto sob meus pés,
caminho por estas ruas.
FLORES DE ABRIL
finda as flores de abril,
pelas brandas mãos do outono.
-mais uma folha caiu!
2011- 2012- 2013- 2018- 2019
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