quarta-feira, 9 de julho de 2025

Negra Carmelinda, minha avó.

pude ver a minha avó
tecendo nuvens de banzo
à beira do fogão

pude ganhar um afago
raro afago posto que dura a luta
de suas trêmulas mãos 
anciãs
mãos de quem foi escrava na vida
mesmo muito depois 
da abolição

a canga sobre os ombros
fez dela uma velha de corpo curvo
os olhos enevoados
refletiam a tragetória madrasta dos passos
e a pouca fé no homem 
que governa

negra analfabeta e muda
eram discretas as suas estórias de vó
a favela era o seu quilombo
e a maior agressão

sua pele era negra
a pouca liberdade era negra
a vida era negra

                     Jul- 2025

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