segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Cais de Porto Valongo

esse esgar seco é de negro?
esse chorar sem lágrimas
esse fedor de sangue coagulado nos logradouros

existe um cais de porto 
onde jaz milhões de almas pretas
expulsas de seus corpos pálidos
corpos quase brancos
onde jaz esgotadas
as últimas gotas de sangue

existe um cais de porto
onde atrocidades bárbaras tisnaram
a tez do dia que seria azul
mas que hora é negra

este cais de porto despresível
onde avaliavam-se homens por suas arcadas
onde mãos vis estiravam bocas
para precificar a carga chegada de mar além

cais de porto imundo
onde porcos chafurdavam 
restos de merda ainda nos corpos
estirados na lama podre da morte

existe um cais de porto
uma história que se deu há pouco
história esquecida por historiadores
ignoradas por livros e acadêmicos
mas cobrada pelos poetas desse povo
capturado trazido torturado
chacinado

cais de porto olhando o mar
no coração desta terra castigada 
existe nesse solo marcado por obscuro pretérito
um cais de porto de nome Valongo

cais de porto atravessado
pela lança cruel da atrocidade humana
cais de porto de nome Valongo

               Dez- 2024

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