desbravar a vida em ruínas de parte dessa gente
dessa grande parte perdida nas próprias dores
dos que aqui nasceram ou migraram
dessa grande diáspora de contrastes
dessa gente mendigando o pão de cada dia
é sofrer do que não pediu
do que nem sequer esperava sofrer
gente misturada aos carros, e praças
e construções suntuosas a serviço da riqueza alheia
estamos todos sorvendo gás dos escapes
comendo pó das necrópoles e,
tentando o nosso mínimo pedaço do bolo
por que dessa infeliz gente de rua?
por que dessa massa de algozes e condenados sumários?
por que desse contigente de mais iguais
e miseráveis?
andar pelas ruas da grande cidade arruinada
é desbravar o lado mau da humanidade
sofrer de desesperada esperança
como último ramo a se agarrar antes do precipício
um nocivo esperar pelo pior
para ver se colhemos algo parecido com o melhor
na próxima esquina
tentar a poesia possível sem medo do dia
para constar na imensa biografia dum ínfimo ser...
Dez- 2024
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