os últimos dos infelizes
(à beira da mendicância
chaga ainda mais exposta)
habitam as ruas
do centro da cidade
mergulhados nas próprias sombras
sem teto
sem terra
sem pão
jazem loucos
de tráfego e ausência
é o passante que passa e ignora
o estômago vazio que apavora
a chuva que chove e molha
a criança que tem fome e chora
condenados dos invernos
o frio cortando a carne à lâmina afiada
sobrevivem
não há horizonte possível
apenas imponentes edifícios enquadrando
a visão às estruturas concreto e aço
guerreiros sem armaduras
amarguram a vida dura
enredo costurado atrás na história
árvore com raízes que datam
da escravatura
e os poderosos guiam automóveis
no valor de apartamentos
até quando?
Jan- 2024