quarta-feira, 30 de outubro de 2024

No ônibus

meus castigados sentidos ainda captam,
os olhos ousam distinguir detalhes, 
as narinas teimam absolver o sensível no ar,
o cérebro equaciona o submundo das incógnitas 
mais covardemente mascaradas:
não é só o cabelo que dá, 
a veste pobre que pode,
o trabalho implorado que resta,
a angústia desesperada do desemprego,
a assistência do governo,
a pessoa física tristemente empobrecida,
o amor que nem sabe o que seja,
o agasalho dum colo
que ficou para trás na infância,
os olhos resignados de quem assiste à tragédia de cada um
e a cara de quem sangrou a noite toda por cada poro.
é a consciência pressentida que tudo segue
amargamente o curso do abismo.
o homem bombardeou covardemente 
a cidade dos meus sonhos.

              Out- 2024

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