terça-feira, 31 de dezembro de 2024

A sorte do homem negro

o homem negro 
corre mais risco de ser 
baleado 
por arma de fogo
de ser implicado pela polícia
de ter a moral abalada
de ter o corpo violado, ferido
e uma série
de violências crueis
enquanto o homem branco
tem a proteção
dos braços da pessoa 
amada
e toda uma sorte
de privilégios incontáveis
sobre o homem
negro

              Dez- 2024

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

in my life not no else more but you. Strong hug my love!

poema para você
que no meio da noite alta
ganha meus cobertores
e que num beijo apaixonado
faz dos meus sonhos
os mais lindos
que já sonhei em toda vida
e renasço vida plena
e amor

poem for you
who in the middle of the night
wins my blankets
and who in a passionate kiss
makes my dreams
the most beautiful
that I have ever dreamed in my entire life
and I am reborn full of life
and love

         Dez- 2024

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Parlamentos

o brasileiro recebe de bom grado
o tapa na cara dos nobres parlamentos
senadores, deputados
e vereadores
fazem farra com dinheiro público
e o povo sorri com regozijo
à vida de miséria a que está submetido
sem saber ao certo deste destino
como gado para o abate
seguindo.

                     Dez- 2024

Lembrando Patativa

articulei no cérebro poeta
com carinho de mãe que gesta o feto
três palavras breves
para lançar com todo afeto
dos meus lábios aos teus ouvidos
então tê-la em meus 
braços entregue
vivendo os sonhos mais lindos
poeta em bibliotecas públicas formado
que não tem casa de alvanaria
não tem sobrado
mas apenas um trôpego barraco
de madeira na beira 
do córrego
córrego este que vive alagado
o que oferecer a tão formosa dama
se não tenho estante
geladeira ou sofá confortável
mas apenas humilde cama
e um carinho imenso e constante
o poeta de todo pobre
mais que pobre é miserável
mas não pode viver sem aquela que ama
e cultiva sentimento nobre
um sentir de todo agradável
poeta que sabe rimar
apenas
dono do seu viver miserável
autor de pobres poemas
que confecciona seja na cidade tamanha
seja à beira do mar salgado
e rima tudo a duras penas
com a mais modesta artimanha
trabalho de quem só
sabe amar
da pele ao ar exposta
à menbrana interna do peito
apenas este fazer que sabe e gosta
poeta sem cura nem jeito
o que dizer doce amada
das três palavras breves que dizer-te penso
são três palavras famosas
que traduzem um sentimento

Inconcluso por poblemas técnicos Dez- 2024




domingo, 22 de dezembro de 2024

Um sonho

o pâncreas o rim o pulmão
estavam ausentes
de mim nenhum pedaço havia
havia apenas um corpo autômato
os livros a cadeira as paredes
o que havia de fato
depois do sobressalto

e você nos meus braços
exibia um sorriso lindo e largo

fora um sonho no meio da noite
o mais belo que tive na vida 
esta pele mais que cansada de açoite
pedia a fustiga do vento
você inteira e viva
mulher víceras e secreções
fato naquele momento

no despertar abrupto
a mesma avenida o mesmo muro
o mesmo vazio estúpido
a ordem possível no ambiente escuro
nada que eu queira no peito
um olhar disperço
para a vida que poderia ter sido
meu corpo imóvel no leito
como se houvesse 
morrido

                        Dez- 2024

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Medo do dia

andar pelas ruas arruinadas da grande cidade
desbravar a vida em ruínas de parte dessa gente
dessa grande parte perdida nas próprias dores
dos que aqui nasceram ou migraram
dessa grande diáspora de contrastes
dessa gente mendigando o pão de cada dia
é sofrer do que não pediu
do que nem sequer esperava sofrer
 
gente misturada aos carros, e praças
e construções suntuosas a serviço da riqueza alheia
estamos todos sorvendo gás dos escapes
comendo pó das necrópoles e, 
tentando o nosso mínimo pedaço do bolo

por que dessa infeliz gente de rua?
por que dessa massa de algozes e condenados sumários?
por que desse contigente de mais iguais
e miseráveis?

andar pelas ruas da grande cidade arruinada
é desbravar o lado mau da humanidade
sofrer de desesperada esperança
como último ramo a se agarrar antes do precipício
um nocivo esperar pelo pior
para ver se colhemos algo parecido com o melhor 
na próxima esquina

tentar a poesia possível sem medo do dia
para constar na imensa biografia dum ínfimo ser...

                       Dez- 2024

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O crime do negro

era negro retinto, forte e desimportante
embrutecido pelo eito excessivo no sol a pino
como quase totalidade dos negros da província
cruzava o beco no meio do dia
sinhazinha sapeca em sentido oposto deu de correr
e gritar: tarado tarado tarado
entorpecido foi capturado, linchado e amarrado ao tronco
o couro da chibata cortou-lhe a carne
lanhou-lhe a alma irreversivelmente
ele que era homem mas que a turba enfurecida
gritava-lhe: animal animal animal
na noite anterior o senhor deste mesmo negro
homem de engenho e proprietário de terras
tirava aos tapas da senzala uma negrinha muito jovem
banhou-a no pátio à água fria do poço
estuprando-a ali mesmo sob a luz das estrelas
observado pelas janelas perplexas da casa grande
do pobre negro restou o cadáver 
sob o céu de um azul limpo
no pelourinho silencioso e ensanguentado
a multidão dispersa e apascentada pelas ruas
calmas da "próspera" província
seguiu a vida ordinária e despreocupada
de cidadãos honestos e justos.

                                Dez- 2024

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Cais de Porto Valongo

esse esgar seco é de negro?
esse chorar sem lágrimas
esse fedor de sangue coagulado nos logradouros

existe um cais de porto 
onde jaz milhões de almas pretas
expulsas de seus corpos pálidos
corpos quase brancos
onde jaz esgotadas
as últimas gotas de sangue

existe um cais de porto
onde atrocidades bárbaras tisnaram
a tez do dia que seria azul
mas que hora é negra

este cais de porto despresível
onde avaliavam-se homens por suas arcadas
onde mãos vis estiravam bocas
para precificar a carga chegada de mar além

cais de porto imundo
onde porcos chafurdavam 
restos de merda ainda nos corpos
estirados na lama podre da morte

existe um cais de porto
uma história que se deu há pouco
história esquecida por historiadores
ignoradas por livros e acadêmicos
mas cobrada pelos poetas desse povo
capturado trazido torturado
chacinado

cais de porto olhando o mar
no coração desta terra castigada 
existe nesse solo marcado por obscuro pretérito
um cais de porto de nome Valongo

cais de porto atravessado
pela lança cruel da atrocidade humana
cais de porto de nome Valongo

               Dez- 2024