sábado, 11 de janeiro de 2025

Amar esta mulher

amar esta mulher é um pouco liberdade,
ambíguo como uma alforria num país escravagista.
um pouco prisão, estar restrito aos limites do corpo
e não dispor do poder de pássaro que enxerga de cima a savana.

mas é meu vento de outono
aquela brisa leve que refresca e dilui a tara abrasadora do sol
é meu rio manso em pleno estio
quando posso despir-me e mergulhar o corpo
nas águas frescas do seu leito

é enfim sentir-se vivendo estações
e suas mais íntimas características e peculiaridades
detendo-se na intensa experiência de experimentar
a vida no que ela oferece de mais saboroso
o espetáculo das sensações

alimento-me deste amor sem conforto ou luxo
como faminto mendigo alimentando-se do que conseguiu perambulando a cidade, 
com a mesma voracidade e urgência
num canto de rua entre as gentes passando indiferentes.

ignoro a fronteira entre o querer e o poder
pois a entrega deste amor é como devaneio de poeta
diamante indescoberto no fundo da terra
entre a distância e o estar no corpo.

                              Jan- 2025

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