quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Sonhos desfeitos

andando por estas ruas 
transito-me 
as casas já estão mudas
e há um eco de silêncio
nos portões
os mortos sob o asfalto
não ousam manifesto


costuro a boca com os dentes
aflito sob tantas máscaras 
de obrigações 
e condenados sem sentença
no tribunal 
dos enjeitados

não há julgamento justo
não há júri isento
pra essa gente de cor escura
com a guilhotina 
da vida dura
a um fio da jugular

de repente me afaga uma flor
afogo no ensaio 
um anseio de fé satisfeita
não há prazer que apague a mágoa
de sonhos desfeitos 

já não quero nada
diante dos gozos urbanos
da tragédia planejada
dos arquitetos do caos e suas plantas
com nódoas de sangue

sorrir já não quero

enroscado, o esqueleto duma pipa
elabora o tempo.

                 Jan-2024

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