domingo, 5 de janeiro de 2025

Ponte

a ponte que separa 
nossas bocas
e nossos abismos
liga irremediavalmente nossos eus
                        e nosso destino
percorreremos!

mas como todas as pontes
há mendigos
sob ela
e eu não estou afim
             agora
enquanto você dorme

de fazer a remoção necessária

             Jan- 2024

Poema sem correção e inconcluso

corroída da base ao topo
por dissimulado racismo
sorri satisfeita a sociedade
mas o que tem é dívida
contraída e não paga
com substanciosa parcela
de seus cidadão
que não anda distribuindo
sorriso de pai joão
quer com urgência pelos males 
causados reparação
não existe aqui bobo da corte
pra levar chibatada
e reagir com afeição
ao déspota que nos fere
seja tenente major capitão
sobretudo quem deu o sangue
no fazimento da nação
queremos nossa parte do bolo
essa é nossa condição
se você branco tem consciência
e já escolheu o lado irmão
seja bem-vindo à nossa luta
agora você que menospreza cidadão
vamos à guerra franca
peito aberto e coragem porque não
como está não fica
digo na certeza e com disposição
cota apenas já não serve
é apenas meia obrigação
chega de servilhismo
de não e sim senhores pois não
queremos integralidade
não apenas ínfima porção
acho que bem me explico
negritude hoje é coletivo união
ou vale pra todos ordem e progresso
ou instauramos revolução
fica impresso este poema
como de recordação
do tempo que ainda negociava
as chaves da prisão
daqui não muito tempo não cumprido 
o exigido vai haver agressão
mas somos povo de paz
ainda somos por negociação
é bem melhor assim
ou não?

                     Jan- 2024


trabalhei mas não deu poema

indignado descubro-me 
num sonho 
e era o mundo empoeirado da minha 
estante de livros
qual o que o amor nos meus braços
aquela que amo entregue
o sorriso laço
num gesto todo breve 
de mais doce afeto 
de milagre

como traduzir em verso
aquele mais que breve momento exato
que mais que devaneio incerto
podia bem ser fato

a mulher que amo
na trama dum beijo apaixonado
o quarto todo escuro
pôs-me de imediato em sobressalto
onde observei que o muro
que se faz presente
no último ato de nosso interminável drama
era mesmo muro
com o meu olhar ausente
meu corpo e a cama

mas há de haver o tempo
que este sonho de todo lindo
chegará nos braços de augusto vento









quanto protagonismo incerto
de todos os sonhos lindos que tive
neste porém era exato
mais que mero devaneio mas fato

Dez- 2024


terça-feira, 31 de dezembro de 2024

A sorte do homem negro

o homem negro 
corre mais risco de ser 
baleado 
por arma de fogo
de ser implicado pela polícia
de ter a moral abalada
de ter o corpo violado, ferido
e uma série
de violências crueis
enquanto o homem branco
tem a proteção
dos braços da pessoa 
amada
e toda uma sorte
de privilégios incontáveis
sobre o homem
negro

              Dez- 2024

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

in my life not no else more but you. Strong hug my love!

poema para você
que no meio da noite alta
ganha meus cobertores
e que num beijo apaixonado
faz dos meus sonhos
os mais lindos
que já sonhei em toda vida
e renasço vida plena
e amor

poem for you
who in the middle of the night
wins my blankets
and who in a passionate kiss
makes my dreams
the most beautiful
that I have ever dreamed in my entire life
and I am reborn full of life
and love

         Dez- 2024

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Parlamentos

o brasileiro recebe de bom grado
o tapa na cara dos nobres parlamentos
senadores, deputados
e vereadores
fazem farra com dinheiro público
e o povo sorri com regozijo
à vida de miséria a que está submetido
sem saber ao certo deste destino
como gado para o abate
seguindo.

                     Dez- 2024

Lembrando Patativa

articulei no cérebro poeta
com carinho de mãe que gesta o feto
três palavras breves
para lançar com todo afeto
dos meus lábios aos teus ouvidos
então tê-la em meus 
braços entregue
vivendo os sonhos mais lindos
poeta em bibliotecas públicas formado
que não tem casa de alvanaria
não tem sobrado
mas apenas um trôpego barraco
de madeira na beira 
do córrego
córrego este que vive alagado
o que oferecer a tão formosa dama
se não tenho estante
geladeira ou sofá confortável
mas apenas humilde cama
e um carinho imenso e constante
o poeta de todo pobre
mais que pobre é miserável
mas não pode viver sem aquela que ama
e cultiva sentimento nobre
um sentir de todo agradável
poeta que sabe rimar
apenas
dono do seu viver miserável
autor de pobres poemas
que confecciona seja na cidade tamanha
seja à beira do mar salgado
e rima tudo a duras penas
com a mais modesta artimanha
trabalho de quem só
sabe amar
da pele ao ar exposta
à menbrana interna do peito
apenas este fazer que sabe e gosta
poeta sem cura nem jeito
o que dizer doce amada
das três palavras breves que dizer-te penso
são três palavras famosas
que traduzem um sentimento

Inconcluso por poblemas técnicos Dez- 2024




domingo, 22 de dezembro de 2024

Um sonho

o pâncreas o rim o pulmão
estavam ausentes
de mim nenhum pedaço havia
havia apenas um corpo autômato
os livros a cadeira as paredes
o que havia de fato
depois do sobressalto

e você nos meus braços
exibia um sorriso lindo e largo

fora um sonho no meio da noite
o mais belo que tive na vida 
esta pele mais que cansada de açoite
pedia a fustiga do vento
você inteira e viva
mulher víceras e secreções
fato naquele momento

no despertar abrupto
a mesma avenida o mesmo muro
o mesmo vazio estúpido
a ordem possível no ambiente escuro
nada que eu queira no peito
um olhar disperço
para a vida que poderia ter sido
meu corpo imóvel no leito
como se houvesse 
morrido

                        Dez- 2024

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Medo do dia

andar pelas ruas arruinadas da grande cidade
desbravar a vida em ruínas de parte dessa gente
dessa grande parte perdida nas próprias dores
dos que aqui nasceram ou migraram
dessa grande diáspora de contrastes
dessa gente mendigando o pão de cada dia
é sofrer do que não pediu
do que nem sequer esperava sofrer
 
gente misturada aos carros, e praças
e construções suntuosas a serviço da riqueza alheia
estamos todos sorvendo gás dos escapes
comendo pó das necrópoles e, 
tentando o nosso mínimo pedaço do bolo

por que dessa infeliz gente de rua?
por que dessa massa de algozes e condenados sumários?
por que desse contigente de mais iguais
e miseráveis?

andar pelas ruas da grande cidade arruinada
é desbravar o lado mau da humanidade
sofrer de desesperada esperança
como último ramo a se agarrar antes do precipício
um nocivo esperar pelo pior
para ver se colhemos algo parecido com o melhor 
na próxima esquina

tentar a poesia possível sem medo do dia
para constar na imensa biografia dum ínfimo ser...

                       Dez- 2024

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O crime do negro

era negro retinto, forte e desimportante
embrutecido pelo eito excessivo no sol a pino
como quase totalidade dos negros da província
cruzava o beco no meio do dia
sinhazinha sapeca em sentido oposto deu de correr
e gritar: tarado tarado tarado
entorpecido foi capturado, linchado e amarrado ao tronco
o couro da chibata cortou-lhe a carne
lanhou-lhe a alma irreversivelmente
ele que era homem mas que a turba enfurecida
gritava-lhe: animal animal animal
na noite anterior o senhor deste mesmo negro
homem de engenho e proprietário de terras
tirava aos tapas da senzala uma negrinha muito jovem
banhou-a no pátio à água fria do poço
estuprando-a ali mesmo sob a luz das estrelas
observado pelas janelas perplexas da casa grande
do pobre negro restou o cadáver 
sob o céu de um azul limpo
no pelourinho silencioso e ensanguentado
a multidão dispersa e apascentada pelas ruas
calmas da "próspera" província
seguiu a vida ordinária e despreocupada
de cidadãos honestos e justos.

                                Dez- 2024

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Cais de Porto Valongo

esse esgar seco é de negro?
esse chorar sem lágrimas
esse fedor de sangue coagulado nos logradouros

existe um cais de porto 
onde jaz milhões de almas pretas
expulsas de seus corpos pálidos
corpos quase brancos
onde jaz esgotadas
as últimas gotas de sangue

existe um cais de porto
onde atrocidades bárbaras tisnaram
a tez do dia que seria azul
mas que hora é negra

este cais de porto despresível
onde avaliavam-se homens por suas arcadas
onde mãos vis estiravam bocas
para precificar a carga chegada de mar além

cais de porto imundo
onde porcos chafurdavam 
restos de merda ainda nos corpos
estirados na lama podre da morte

existe um cais de porto
uma história que se deu há pouco
história esquecida por historiadores
ignoradas por livros e acadêmicos
mas cobrada pelos poetas desse povo
capturado trazido torturado
chacinado

cais de porto olhando o mar
no coração desta terra castigada 
existe nesse solo marcado por obscuro pretérito
um cais de porto de nome Valongo

cais de porto atravessado
pela lança cruel da atrocidade humana
cais de porto de nome Valongo

               Dez- 2024

sábado, 23 de novembro de 2024

sob a égide da humanidade

os mendigos das cidades festejaram
o mundo fez-se comunista
economias planificaram-se
poderiam ascender à classe média
haveria essa única classe social
o mais negro dos mendigos
o mais sujo dos mendigos tomou champanhe
uns morreram de tanto porre
outros conceberam filhos ainda bêbados
houve os que dançaram
toda a noite
e ainda os que andaram de montanha russa
no estacionamento d'algum Shopping 
com um sorriso de êxtase na cara
tudo aos sons festivos de uma orquestra
de negros livres da bestialidade
e da humilhação

            Nov- 2024

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

No ônibus

meus castigados sentidos ainda captam,
os olhos ousam distinguir detalhes, 
as narinas teimam absolver o sensível no ar,
o cérebro equaciona o submundo das incógnitas 
mais covardemente mascaradas:
não é só o cabelo que dá, 
a veste pobre que pode,
o trabalho implorado que resta,
a angústia desesperada do desemprego,
a assistência do governo,
a pessoa física tristemente empobrecida,
o amor que nem sabe o que seja,
o agasalho dum colo
que ficou para trás na infância,
os olhos resignados de quem assiste à tragédia de cada um
e a cara de quem sangrou a noite toda por cada poro.
é a consciência pressentida que tudo segue
amargamente o curso do abismo.
o homem bombardeou covardemente 
a cidade dos meus sonhos.

              Out- 2024

sábado, 5 de outubro de 2024

Entre as flores do jardim

trabalhadores de tabaco nos dentes
ruminam vida e amassam mágoas sob as solas
enlameadas dos sapatos rotos.
enquanto uma tristeza turva os contornos
dos meus olhos com um pranto lento.

não viram meus olhos,
exaustos de tanto horizonte desperdiçado,
outras marcas do destino além das avarias
nos espectros de toda uma sociedade.
enquanto eu andava entre os presos da Sibéria,
e vi partir, pensei que para nunca mais,
a nau com os olhos de minha amada.

nasceu o poeta depois da guerra,
mutilado da sua dignidade:
flores germinaram no jardim de minha mãe,
rios serpentearam entre as pedras até o mar,
passaram nuvens ocultando a nudez do poente
sob os dedos ainda atônitos com a beleza destes versos.

testemunhei meu irmão caminhar
para morrer adiante sob a tristeza de meus olhos,
entre as flores do jardim de minha mãe,
ou mesmo alguém com semelhantes feições,
já não me lembro de quase nada.
eu mesmo pereci no estio entre as flores de minha mãe.

e quando a madrugada era apenas uma fresta
que eu perseguia na trégua dos anos
quando não esperava mais nada da vida,
surgiu entre a brisa que embotava meu olhar cansado
a silhueta que pensei ser minha mãe a cuidar do jardim,
mas era, novamente, a imagem da mulher que amei.

                             Julho- 2017

Madrigal para uma senhora

O fino cetim que cinge seu corpo claro,
Mais que sua pele macia não é fino.
O diamante do anel no dedo seu de brilho raro,
Mais que seus olhos não brilha, senhora do meu destino.

A madressilva que exala perfume sem fim,
Perfume mais doce que o seu não tem.
A lã de que é feita sua pala carmesim,
Mais macia que seus cabelos não é também.

E nesse brilho sem igual de sua natureza
Vai passando sem igual sua mulher
E nos deixando, nós homens, assim atônitos:

Em uma criatura só tamanha beleza,
É leve, do seu jeito faz o que quer.
Senhora, como a tenho no pensamento com clareza.

Poema composto por volta de 2013, 2014