domingo, 5 de janeiro de 2025

Poema sem correção e inconcluso

o brasil nasceu dos braços dessa gente preta
nos engenhos, nas lavouras, na extração das riquezas












enquanto houver um oprimido
sob o macacão operário
enquanto houver um mendigo
comendo os restos dos endinheirados
não posso enfeitar o discurso com palavras amenas
e meu verso áspero permeia o poema

meu olhar treinado reconhece a pele negra
sob o macacão operário
reconhece ainda a pele negra
na pele do mendigo revirando os restos no lixo
muita gente passa e nem vê

não vê nas novelas, nos filmes, nas propagandas
a ausência do protagonismo de minha gente
não vê nos livros em suas estantes
nos jornais que leem
nos bancos das universidades onde estudam seus filhos
a ausência do protagonismo de minha gente preta

os milicos largaram o osso
depois de grossa pancadaria e protesto
mas entra governo sai governo
e minha gente negra ainda é o alvo da opressão
ainda engole a pinga forçada goela abaixo
e fuma a bomba h dos excluídos

o best seller ainda é *********
e suas referências brancas, seus romances vazios
enquanto provavelmente meus versos
morrerão esquecidos nas páginas desse blog
e escaparão à análise dos críticos, pesquisadores e historiadores

a indiferença do mundo contra um povo
contra sua cultura, sua arte, sua etnia e sua cor
os assassinatos covardes de luther king, steve biko, malcolm x
dos amarildos e genivaldos nos becos escuros das favelas
e muita gente passa e nem vê

mas esse povo existe
como existe sua cultura, sua arte, sua etnia e sua cor
e a chaga exposta da indiferença permanecerá em meus versos
sem pretenção nemhuma além da denúncia
meu dedo está na ferida

                            Dez- 2023

Uma vírgula 2

toda uma história de avessos
destino traçado antes da concepção
ainda em tempos bem distantes
e este inferno fora do útero
pra negro retinto estava por uma vírgula
de agressões trazia um tratado
palavras que lhe corriam nas veias
não que as cultivasse
mas como ervas daninhas
brotavam no jardim de suas lutas
maltrapilho maltratado humilhado
bebeu fogo comeu vidro abraçou espinhos
banhou-se no sangue da íra alheia
e só queria uma fresta
mas o barro sujou-lhe os sapatos
lhe emporcalhou as vestes
penetrou-lhe a pele
no lugar de um coração
uma escultura escarlate percutia
e todas doces glórias que almeja um homem
na mão contrária seguiam
uns olhos de abismo em suas retinas
seguro porto de atraque vislumbra
nada mais que a morte segura
e queda-se sob uns cabelos de medusa
para sempre perdia-se

                         Dez- 2023

Uma vírgula

pra negro retinto 
estava por uma vírgula
o destino cobraria o preço caro
até os 15 tinha tudo
e tudo era nada
queria amor, carinho e tudo o mais

vintém não tinha, um esfregão
sua universidade
e as paralelas do barro
subúrbio, marmita, remela 
e trem lotado, e ainda queria amar

era cego posto não queria ver
sonhava pernas, duros peitos, buceta
a mais linda sonhava
pra retinto faltava uma vírgula

por fim achou quem amasse
quem alto sonhava pro seu parco defunto
envesgaram-te os olhos
onde passava era um canto de olho
um escárnio

depois de pancada, polícia
e escarros na cara andou percebendo
a mais linda não tem parecença
sua pele é pra outros voos, não este quase retinto

que a bala persegue
e muitas vezes encontra já com cicatrizes
andou percebendo que ascender
nesta sociedade é restrito
à aparência mais "amena", outro tom

a mais linda formou-se
e já tinha um bem, um ouro, um euro
e ele afro
fruto fraco pro jogo franco daquelas regras 
quedou-se inconformado

veio-lhe a prata tempora
os sonhos todos vencidos, pisados
nuvem nos olhos
calos nas mãos de tanto estudo
já não esperava mais da vida
eis tudo

                               Dez- 2023

Ponte

a ponte que separa 
nossas bocas
e nossos abismos
liga irremediavalmente nossos eus
                        e nosso destino
percorreremos!

mas como todas as pontes
há mendigos
sob ela
e eu não estou afim
             agora
enquanto você dorme

de fazer a remoção necessária

             Jan- 2024

Poema sem correção e inconcluso

corroída da base ao topo
por dissimulado racismo
sorri satisfeita a sociedade
mas o que tem é dívida
contraída e não paga
com substanciosa parcela
de seus cidadão
que não anda distribuindo
sorriso de pai joão
quer com urgência pelos males 
causados reparação
não existe aqui bobo da corte
pra levar chibatada
e reagir com afeição
ao déspota que nos fere
seja tenente major capitão
sobretudo quem deu o sangue
no fazimento da nação
queremos nossa parte do bolo
essa é nossa condição
se você branco tem consciência
e já escolheu o lado irmão
seja bem-vindo à nossa luta
agora você que menospreza cidadão
vamos à guerra franca
peito aberto e coragem porque não
como está não fica
digo na certeza e com disposição
cota apenas já não serve
é apenas meia obrigação
chega de servilhismo
de não e sim senhores pois não
queremos integralidade
não apenas ínfima porção
acho que bem me explico
negritude hoje é coletivo união
ou vale pra todos ordem e progresso
ou instauramos revolução
fica impresso este poema
como de recordação
do tempo que ainda negociava
as chaves da prisão
daqui não muito tempo não cumprido 
o exigido vai haver agressão
mas somos povo de paz
ainda somos por negociação
é bem melhor assim
ou não?

                     Jan- 2024


trabalhei mas não deu poema

indignado descubro-me 
num sonho 
e era o mundo empoeirado da minha 
estante de livros
qual o que o amor nos meus braços
aquela que amo entregue
o sorriso laço
num gesto todo breve 
de mais doce afeto 
de milagre

como traduzir em verso
aquele mais que breve momento exato
que mais que devaneio incerto
podia bem ser fato

a mulher que amo
na trama dum beijo apaixonado
o quarto todo escuro
pôs-me de imediato em sobressalto
onde observei que o muro
que se faz presente
no último ato de nosso interminável drama
era mesmo muro
com o meu olhar ausente
meu corpo e a cama

mas há de haver o tempo
que este sonho de todo lindo
chegará nos braços de augusto vento









quanto protagonismo incerto
de todos os sonhos lindos que tive
neste porém era exato
mais que mero devaneio mas fato

Dez- 2024


terça-feira, 31 de dezembro de 2024

A sorte do homem negro

o homem negro 
corre mais risco de ser 
baleado 
por arma de fogo
de ser implicado pela polícia
de ter a moral abalada
de ter o corpo violado, ferido
e uma série
de violências crueis
enquanto o homem branco
tem a proteção
dos braços da pessoa 
amada
e toda uma sorte
de privilégios incontáveis
sobre o homem
negro

              Dez- 2024

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

in my life not no else more but you. Strong hug my love!

poema para você
que no meio da noite alta
ganha meus cobertores
e que num beijo apaixonado
faz dos meus sonhos
os mais lindos
que já sonhei em toda vida
e renasço vida plena
e amor

poem for you
who in the middle of the night
wins my blankets
and who in a passionate kiss
makes my dreams
the most beautiful
that I have ever dreamed in my entire life
and I am reborn full of life
and love

         Dez- 2024

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Parlamentos

o brasileiro recebe de bom grado
o tapa na cara dos nobres parlamentos
senadores, deputados
e vereadores
fazem farra com dinheiro público
e o povo sorri com regozijo
à vida de miséria a que está submetido
sem saber ao certo deste destino
como gado para o abate
seguindo.

                     Dez- 2024

Lembrando Patativa

articulei no cérebro poeta
com carinho de mãe que gesta o feto
três palavras breves
para lançar com todo afeto
dos meus lábios aos teus ouvidos
então tê-la em meus 
braços entregue
vivendo os sonhos mais lindos
poeta em bibliotecas públicas formado
que não tem casa de alvanaria
não tem sobrado
mas apenas um trôpego barraco
de madeira na beira 
do córrego
córrego este que vive alagado
o que oferecer a tão formosa dama
se não tenho estante
geladeira ou sofá confortável
mas apenas humilde cama
e um carinho imenso e constante
o poeta de todo pobre
mais que pobre é miserável
mas não pode viver sem aquela que ama
e cultiva sentimento nobre
um sentir de todo agradável
poeta que sabe rimar
apenas
dono do seu viver miserável
autor de pobres poemas
que confecciona seja na cidade tamanha
seja à beira do mar salgado
e rima tudo a duras penas
com a mais modesta artimanha
trabalho de quem só
sabe amar
da pele ao ar exposta
à menbrana interna do peito
apenas este fazer que sabe e gosta
poeta sem cura nem jeito
o que dizer doce amada
das três palavras breves que dizer-te penso
são três palavras famosas
que traduzem um sentimento

Inconcluso por poblemas técnicos Dez- 2024




domingo, 22 de dezembro de 2024

Um sonho

o pâncreas o rim o pulmão
estavam ausentes
de mim nenhum pedaço havia
havia apenas um corpo autômato
os livros a cadeira as paredes
o que havia de fato
depois do sobressalto

e você nos meus braços
exibia um sorriso lindo e largo

fora um sonho no meio da noite
o mais belo que tive na vida 
esta pele mais que cansada de açoite
pedia a fustiga do vento
você inteira e viva
mulher víceras e secreções
fato naquele momento

no despertar abrupto
a mesma avenida o mesmo muro
o mesmo vazio estúpido
a ordem possível no ambiente escuro
nada que eu queira no peito
um olhar disperço
para a vida que poderia ter sido
meu corpo imóvel no leito
como se houvesse 
morrido

                        Dez- 2024

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Medo do dia

andar pelas ruas arruinadas da grande cidade
desbravar a vida em ruínas de parte dessa gente
dessa grande parte perdida nas próprias dores
dos que aqui nasceram ou migraram
dessa grande diáspora de contrastes
dessa gente mendigando o pão de cada dia
é sofrer do que não pediu
do que nem sequer esperava sofrer
 
gente misturada aos carros, e praças
e construções suntuosas a serviço da riqueza alheia
estamos todos sorvendo gás dos escapes
comendo pó das necrópoles e, 
tentando o nosso mínimo pedaço do bolo

por que dessa infeliz gente de rua?
por que dessa massa de algozes e condenados sumários?
por que desse contigente de mais iguais
e miseráveis?

andar pelas ruas da grande cidade arruinada
é desbravar o lado mau da humanidade
sofrer de desesperada esperança
como último ramo a se agarrar antes do precipício
um nocivo esperar pelo pior
para ver se colhemos algo parecido com o melhor 
na próxima esquina

tentar a poesia possível sem medo do dia
para constar na imensa biografia dum ínfimo ser...

                       Dez- 2024

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O crime do negro

era negro retinto, forte e desimportante
embrutecido pelo eito excessivo no sol a pino
como quase totalidade dos negros da província
cruzava o beco no meio do dia
sinhazinha sapeca em sentido oposto deu de correr
e gritar: tarado tarado tarado
entorpecido foi capturado, linchado e amarrado ao tronco
o couro da chibata cortou-lhe a carne
lanhou-lhe a alma irreversivelmente
ele que era homem mas que a turba enfurecida
gritava-lhe: animal animal animal
na noite anterior o senhor deste mesmo negro
homem de engenho e proprietário de terras
tirava aos tapas da senzala uma negrinha muito jovem
banhou-a no pátio à água fria do poço
estuprando-a ali mesmo sob a luz das estrelas
observado pelas janelas perplexas da casa grande
do pobre negro restou o cadáver 
sob o céu de um azul limpo
no pelourinho silencioso e ensanguentado
a multidão dispersa e apascentada pelas ruas
calmas da "próspera" província
seguiu a vida ordinária e despreocupada
de cidadãos honestos e justos.

                                Dez- 2024

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Cais de Porto Valongo

esse esgar seco é de negro?
esse chorar sem lágrimas
esse fedor de sangue coagulado nos logradouros

existe um cais de porto 
onde jaz milhões de almas pretas
expulsas de seus corpos pálidos
corpos quase brancos
onde jaz esgotadas
as últimas gotas de sangue

existe um cais de porto
onde atrocidades bárbaras tisnaram
a tez do dia que seria azul
mas que hora é negra

este cais de porto despresível
onde avaliavam-se homens por suas arcadas
onde mãos vis estiravam bocas
para precificar a carga chegada de mar além

cais de porto imundo
onde porcos chafurdavam 
restos de merda ainda nos corpos
estirados na lama podre da morte

existe um cais de porto
uma história que se deu há pouco
história esquecida por historiadores
ignoradas por livros e acadêmicos
mas cobrada pelos poetas desse povo
capturado trazido torturado
chacinado

cais de porto olhando o mar
no coração desta terra castigada 
existe nesse solo marcado por obscuro pretérito
um cais de porto de nome Valongo

cais de porto atravessado
pela lança cruel da atrocidade humana
cais de porto de nome Valongo

               Dez- 2024

sábado, 23 de novembro de 2024

sob a égide da humanidade

os mendigos das cidades festejaram
o mundo fez-se comunista
economias planificaram-se
poderiam ascender à classe média
haveria essa única classe social
o mais negro dos mendigos
o mais sujo dos mendigos tomou champanhe
uns morreram de tanto porre
outros conceberam filhos ainda bêbados
houve os que dançaram
toda a noite
e ainda os que andaram de montanha russa
no estacionamento d'algum Shopping 
com um sorriso de êxtase na cara
tudo aos sons festivos de uma orquestra
de negros livres da bestialidade
e da humilhação

            Nov- 2024