domingo, 3 de março de 2024

Dizeres do Mendigo Pedro

ando a vagar vagar vagar sem rumo certo
nas ruas desta metrópole desgovernada,
no meio de toda esta gente, neste deserto.
com a sutil diferença, salvo a ironia,
que não tenho sequer um barraco na favela.
pequeno, pra mim mesmo,
ou um catre sob o viaduto, que seja.
que o que me pertence apenas são meus trapos velhos,
e o meu corpo cansado, quase nada.
quem tem rumo certo nesta vida desvairada?

de mim sei quase nada, de onde venho,
não quero lembrar,
sei apenas que aqui vim parar,
que sou de qualquer lugar.
que a fé eu perdi dobrando uma esquina, perto;
os sonhos todos,
numa noite gelada de inverno aberto.
vez em quando esqueço minha condição
e sonho mais que posso,
às vezes, muito às vezes até tenho fé, mas logo volto.

mas o que eu sei de verdade
é que não sei o que mais me transtorna,
no correr dos dias, no passar das horas:
se meu ventre que me consome, que me devora,
ou se meu coração que lamenta e chora:
o ventre consome e devora por não ter comida,
o coração lamenta e chora, pela dor desta vida.

                    Junho- 2016

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