os ventos dos mares necrópoles
e o hálito amargo das ondas
brindam mistérios antepassados
sofridos nas vagas de oceanos hostis
ante os olhos das nações
ainda passam por meu sangue
quintais de antepassadas lidas
as brincadeiras
dos moleques a furtarem frutas
das goiabeiras antigas
a fome nos trópicos
por meu sangue ainda passam
quilombos vencidos pela guerra
vozes de atrozes banzos
marcando com seus brasões as minhas veias
remetendo a dores ainda vivas
sob as cicatrizes
ainda passam por meu sangue
velhas lavadeiras com seus lamentos
e as roupas imundas do passado
rumo aos rios das angústias
quarar as queixas
vivendo sempre dias iguais
por meu sangue ainda passam
os olhos vítreos das senzalas
acomodando desesperos nas noites intermináveis
curando expostas chagas com sussurros
a liberdade estupefata
com os horrores do cárcere
por meu sangue ainda passam
ainda passam por meu sangue
Fev. 2021
Gostei muito do poema. Intenso. Bravo, poeta!
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