de senzala em senzala
rugi nas mentes o som das águas sangrentas
do banquete dos tubarões famintos
o hálito da necrópole dos mares
cristalizados nos olhos violados da escravidão
de senzala em senzala
a força bruta contra as inteligências
pelas maquinações da usura
a resistência nos olhos vazados a ferro
nas peles em lanhos despidas
os jugos correntes e máscaras
a tortura à ternura fuzilada
de senzala em senzala
fome frio medo e a podridão da carne
os vergões dos açoites nos dorsos
o gosto podre dos alimentos nas bocas
as almas tomadas pelos engenhos
a posse dos braços explorados
de senzala em senzala
o estupro o choro contido no desespero
o filho bastardo no ventre violado
o esfumaçar das identidades
os estilhaços dos corpos esgotados
os inféctos odores das moléstias
dos excrementos e dos sonhos esfacelados
de senzala em senzala
as dignidades aos poucos usurpadas
a imagem dantesca de todas as perdas
amontoadas pelos gélidos cantos
a incompreenção nas palavras
os inascessíveis horizontes do Continente
o resultado destes crimes de lesa
são as descendências atoladas
no lamaçal do menosprezo
a dívida jamais ressarcida e negada
cada gota de sangue dos homicídios
Jul- 2021
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