quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Comarca de absurdos

brancos desvalidos e negros 
açoitados
agonizam misérias 
sobre palafitas
nas encostas íngrimes dos morros
sob a idiferença de todos

barões e senhores 
endinheirados
caviar, filé-mignon e mesa farta
a usura da posse e do lucro
no país esfacelado
e morre-se de bala morre-se de frio
crianças famélicas mínguam
o medo do invisível diante 
dos olhos

uísques e charutos de mando
na boca torta do sistema
lupas de egoísmo 
nos olhos míopes do sistema
escandalosamente
o sistema
comarca de absurdos

ainda o mando sobre o dorso 
oprimido
ainda o mando sobre o dorso d'África
sobre a tinta das peles e o sangue 
derramado nas terras
herdeiras das capitanias

pode o poeta e sua voz 
de frágil timbre
combater com palavras evidências
documentadas em cartórios
papéis timbrados que guardam
a corrupção dos homens
vis de nossa pátria alheia

cada poema chaga
é um chega para os perversos atos
que atam o ontem e o hoje
tempos estranhos esses do poeta
o povo ignorante
amargando cachaça barata
e vícios e nocivos hábitos 
com as algibeiras cheias de pedra
o prato cheio de terra

o poeta sofre
versos amargos sobram
o poema chora em vez de sorrir
e dorme
com seu povo
no seio da pátria amarga

     Agos- 2021

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