brancos desvalidos e negros
açoitados
agonizam misérias
sobre palafitas
nas encostas íngrimes dos morros
sob a idiferença de todos
barões e senhores
endinheirados
caviar, filé-mignon e mesa farta
a usura da posse e do lucro
no país esfacelado
e morre-se de bala morre-se de frio
crianças famélicas mínguam
o medo do invisível diante
dos olhos
uísques e charutos de mando
na boca torta do sistema
lupas de egoísmo
nos olhos míopes do sistema
escandalosamente
o sistema
comarca de absurdos
ainda o mando sobre o dorso
oprimido
ainda o mando sobre o dorso d'África
sobre a tinta das peles e o sangue
derramado nas terras
herdeiras das capitanias
pode o poeta e sua voz
de frágil timbre
combater com palavras evidências
documentadas em cartórios
papéis timbrados que guardam
a corrupção dos homens
vis de nossa pátria alheia
cada poema chaga
é um chega para os perversos atos
que atam o ontem e o hoje
tempos estranhos esses do poeta
o povo ignorante
amargando cachaça barata
e vícios e nocivos hábitos
com as algibeiras cheias de pedra
o prato cheio de terra
o poeta sofre
versos amargos sobram
o poema chora em vez de sorrir
e dorme
com seu povo
no seio da pátria amarga
Agos- 2021
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