sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

São Paulo

enterrar a cara nos meandros
da cidade dura
desaparecer entre os traseuntes
e os edifícios
na carnadura de tuas vias congestionadas
respirar os gases que saem
dos escapamentos
escapolir por tuas ladeiras
cidade de papel
onde desenhamos nossas vidas
garatujamos nossa história
traçando sonhos
esquecidos
a mais bela mensagem de amor
chova-me cidade de pedra
que eu floreço
no teu aço no teu concreto duro
cidade dos negócios
cinza como teu céu de outono
cidade industrial financeira
quero adquirir uma porção pequena
de teus subúrbios
dormir e acordar na tua carne
de pedra bruta
criaria filhos sob teus decretos
se os tivesse
quanto de você mora em mim
é inconcebível
e gosto de fechar teus bares
chorando no copo as mágoas de amor
não correspondido
embora seja portador do amor que transpiras
por teus poros de pedra
são paulo
nem sempre tens a saúde
necessária para abrigar os filhos
que nasceram da tua placenta
e que vivem no solo do teu ventre democrático
quando muitos deles
perecem nas desgraças
emanadas de teus seios mãe amada
amei aqui
esqueci aqui
trabalhei aqui
e vou descansar meus ossos na tua terra
cidade de contrastes
tão violentos às vezes que angustia
mas teu nome
tua vivência muitas vezes cheia de defeitos
tua estrutura rija feito aço
tuas matas teus mangues
tuas entranhas inesploradas
já têm registro reconhecido em cartório
caos urbano
rica arquitetura
grã-fina e miserável cidade
que não dorme

                            Fev- 2024

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